Um blog sobre a vida

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Um trail, duas quedas e um par de muletas


posted by Angel on

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Na terceira edição do trail de Lagares eu espalhei-me!
Não o fiz com pouca modéstia, foi assim um esbardalhanço monumental, a cair tem de se cair com estilo e eu consegui fazê-lo por duas vezes na perfeição.
Em boa verdade eu queria mesmo era ter uma melhor perspetiva da prova na posição "de quatro". 
Sei cair tão bem que apenas contei com uns arranhões nas mãos e só depois da segunda queda é que resolvi calçar as luvas, inteligente eu... devia tê-lo feito logo à primeira queda, que nem um arranhão me valeu.
Mas esta prova tinha de ter a sua cereja no topo do bolo: eu de muletas.

Participei porque me tinham falado bem, mas ninguém me tinha falado bem dos abastecimentos. Não querem saber nada daqueles abastecimentos, tenho a certeza, dois na prova que fiz, 17km.
Bifanas e cerveja? Pensei que se calhar me teria enganado no percurso e ido parar a um qualquer piquenique.
E a quantidade de mesas com variadas iguarias? Meu... Deus!
Limitei-me a agarrar laranja e batata frita, mas até a laranja estava conivente com todas as iguarias, era tão doce que olhava para mim a implorar mais e mais. As minhas mãos estava melosas de todo o sumo que delas escorria. Praguejei, maldita laranja tentadora!
Tinha de fugir do primeiro abastecimento, como o diabo foge da cruz. Mas nem as minhas pernas estavam a colaborar e parecia que imploravam por voltar ao abastecimento.

Foto de uma das cinco mesas do primeiro abastecimento.

Alguns km depois segundo abastecimento.
Oh.... Meu.... Deus!
A variedade de bolos? Por pouco não me sentei, montei a tenda e fiquei por ali mesmo.
Esta malta estava a apostar numa de o pessoal não continuar a correr e ficar por ali a desfrutar da vista e do menu.
Um parque de merendas, brilhante!
Adoro comer e correr, oh Jesus! Aqueles bolos tinham um ar pecaminoso e gritavam a plenos pulmões "come-me", "já viste como sou bonito e cremoso" ou ainda "eu sou de chocolate com extra cobertura". Enquanto os bolos me deitavam olhares pecaminosos e o meu interior se digladiava, aproveitei para repor açúcar, sal e hidratar, virei costas e segui caminho.

Havia ali tentação a mais para me permitir continuar a correr. Parecia mal desistir de uma prova por causa da comida, não ficava nada bem escrever isso aqui.
Aletria? Não posso querer...
O pior foram os km que se seguiram, este tipo de banquete em trails devia ser proibido é demasiado tentador, pelo menos para mim.
4 km depois estava na meta e o abastecimento lá já seria aquilo que eu considero "normal" e nada tentador, felizmente! Apenas aletria e isso não faz parte da doçaria pela qual perco a cabeça.


O trajeto muito bem marcado, os trilhos muito bonitos em especial na parte final, passámos pela Quintandona, zona do primeiro abastecimento, eu já falei dos abastecimentos? Atravessámos a Casa Valxisto, onde já tive oportunidade de passar um fim-de-semana e o sítio é adorável e tranquilo, o ideal para repor energias.
Ponto negativo para o excesso de atletas num dos trilhos que levou a uma paragem logo no primeiro afunilamento, provavelmente a organização não deveria juntar os 25 com os 17km, partidas diferentes penso que teriam resolvido esse percalço.

Mas eu de muletas é que foi a parte melhor.
Cheguei ao fim da prova maravilhosa, apesar das duas quedas monumentais.
Banho quente em casa, almoçinho e depois umas boas horas sentada no sofá e nessas horas o meu pé direito começou a reclamar o cansaço, julguei eu. Minutos mais tarde, já nem conseguia pousar o pé no chão sem soltar uns gritos.
Brufen, nada.
Gelo, nada.
Não tinha posição para estar sentada nem deitada, as dores estavam a tirar-me qualquer resquício de discernimento que existisse. Andar pela casa só mesmo com o apoio das muletas de outra forma era impossível, parecia que me tinham amputado o pé. A palavra hospital brilhava com luzes de neon na minha mente e agarrei-me a essa tábua de salvação.

Eu de muletas num hospital, aquilo deu-me imensa vontade de rir apesar das dores.
Fui atendida com uma rapidez impressionante e eu a pensar no caos que se fala por ai das urgências mas sempre que lá fui tenho uma sorte dos diabos.
Entre triagem, ortopedista e raio-x demorei menos de uma hora, o problema foi que o médico estava a avaliar as belas fotos do meu pé e mandou pedir mais raio-x na lateral porque ficou com dúvidas e consequentemente mais tempo nas urgências e desta vez já demorei um pouco mais a fazer raio-x. Apesar de tudo o tempo que lá estive foi pouco, considerando que estava a pensar que ia por ali passar um bom par de horas.
Felizmente nada partido, torci o pé algures no meio do trail e só depois de todo o corpinho arrefecer é que se manifestou. Eu verde nestas andanças não fazia ideia do que poderia ser e se soubesse teria ficado bem em casa com o brufen e gelo. Para a próxima já sei.
Recomendações para não fazer nenhum nas próximas duas semanas e descansar o pé ao máximo.
- Mas ó Sr Dr. tenho duas provas em Maio...
- Hummm.
À noite as dores eram muito menores e posso dizer que dormi que nem um anjo.
Pela manhã conseguia caminhar praticamente de forma normal e com uma ligeira dor, que me pareceu mais dor de medo de pousar o pé.
No entanto acordei com todas as minhas costelas do lado esquerdo a doer bem como o ombro. Isto sim resultado da segunda queda, ainda hoje quando respiro profundamente parece que me estão a enfiar um pau entre as costelas e o coração.

Se repetia tudo outra vez? Sem dúvida, até as quedas. A culpa foi minha, faltou a recuperação ativa, sofás e camas depois de uma prova? Não dá... o meu corpo não aceita isso.

Créditos: Ellykeino

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  1. Anónimo