Um blog sobre a vida

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Até já


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Faz hoje uma semana que a minha vida ficou virada do avesso.
Tento acalmar a dor que persiste em ficar, tento não pensar em tudo o que vivi naquele dia, tento viver... tento... uns dias consigo melhor do que outros.
No entanto um sentimento contraditório de paz instalou-se em mim.
Paz porque senti que fiz tudo o que estava ao meu alcance fazer naqueles últimos dias, disse tudo o que queria dizer a cada despedida como se fosse a última e quando me apercebi que a última despedida seria a daquele dia nada ficou por dizer.
Se existe algum lado bom desta doença, no meio de tanta dor, angustia, impotência e agonia é que ela nos permite ir preparando um caminho, preparando uma despedida que, por muito dolorosa que seja, sabemos que chegará.
E ela chegou, assisti à sua chegada e também isso me confortou muito mais o coração.
Agora olho para trás e percebo que tudo fez sentido.
Eu estive onde deveria estar todos aqueles dias, acompanhei um processo demasiado doloroso mas que me trouxe algo de muito bom, toda esta paz e conforto ao meu coração.
Sei que não seria a mesma se tivesse vivido tudo isto à distancia, o meu coração nunca estaria sossegado tal como nunca esteve de cada vez que tive de me ausentar por uns dias, vivia em sobressalto de cada vez que o telefone tocava... mas nem tudo foi triste existiu um felizmente, o meu felizmente por ter assistido a tudo. O meu luto é cheio de dor por tamanha ausência mas ao mesmo tempo é cheio de paz.

Sei que ela partiu também em paz, porque sentiu todo o nosso amor ali naquele momento de despedida, esperou pela nossa chegada e pela minha despedida para partir em paz e eu esperei de mão dada até ao ultimo bater do coração, até ao ultimo sopro de vida....

Nada ficou por fazer, nada ficou por dizer.
Ela ficou em paz, eu também.

Não serei a mesma porque falta-me uma peça mas guardarei para sempre este momento gravado no coração porque me marcou.

Até já! Nunca te esqueças da última coisa que te pedi! 

* * *

Este blog irá fazer uma pausa, preciso de tempo para repensar se tudo isto continua a fazer sentido... não sei... neste momento não faz sentido porque há muito que deixei de escrever para meu registo mas porque sabia que ela me lia religiosamente.
Não sei se é um até já ou um adeus, só o tempo dirá se voltarei a ter vontade de escrever sobre mim e os meus por aqui.
Por agora procurarei conforto na família, nos amigos, nos livros que tanto me têm feito bem... um dia espero voltar a procurar o conforto nas palavras que aqui escrevo.
Obrigada a todos os que me apoiaram diariamente nesta difícil viagem que é conviver com o cancro de um familiar. 
Descobrir os amigos maravilhosos que tenho na pior altura da minha vida é realmente gratificante, foram incansáveis! O meu bem haja de coração!
À minha grande amiga, no fundo a irmã que gostaria de ter e nunca tive, que não me deixou um segundo, que se privou de jantar, almoçar e lanchar em condições para estar ao meu lado quer na dor da alma quer na dor de costas e rabo de tanto tempo que passámos sentadas. Muito e muito obrigada!
Um obrigada muito especial à minha prima por saber exactamente que palavras dizer, só quem percorreu este duro caminho sabe do que se padece. Repeti sem fim o teu conselho, em todas as despedidas como se fossem a última.

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  1. Anónimo
  2. Ana Almeida